Maiara

Conheceram-se em uma festa de amigos comuns e logo surgiu uma cumplicidade entre ambos. Lucas ficou fascinado pela sua beleza exótica, com o lindo e solto sorriso, pelas suas frases objetivas, inteligentes e com a meiguice expressa numa feminilidade aparentemente frágil nos seus dezoito anos. Passara a visitá-la com freqüência e ficavam horas conversando, ouvindo música ou assistindo filmes locados.
Lucas estava, naquele tempo, recuperando-se de uma doença que o deixara fragilizado de corpo e alma, sentia-se feio, sem qualquer encanto e numa total ausência de perspectiva quanto ao futuro. Naqueles momentos, quando em companhia de sua nova amiga, conseguia esquecer a baixa auto-estima. Aos poucos surgia em seu íntimo uma esperança de dias melhores, de possíveis momentos felizes e da possibilidade de reerguer-se frente à vida que prosseguia indiferente ao seu estado de espírito.
Maiara era a simplicidade em pessoa e, claramente, não estava preocupada com a aparência dele e sim com sua alma. Falava-lhe com carinho da força oculta que trazia internamente, da sua capacidade de superar o que fosse preciso – bastava acreditar. Ele se surpreendia: “como pode uma pessoa tão jovem, sem qualquer vivência nos dissabores do existir, conseguir fazê-lo encontrar o seu próprio norte?”.
Passaram-se alguns meses. Lucas acordou, num certo dia, sabendo-se apaixonado de forma irremediável por Maiara. Procurou cuidar-se mais, melhorar no que fosse preciso para sentir-se merecedor daquela linda menina-mulher. Passou a prestar mais atenção nas palavras, gestos e atitudes dela, tentando captar algum sinal além da amizade total que ela lhe devotava. Não conseguiu ver nada mais do que já tinha visto. Ela nunca dissera qualquer palavra que o encorajasse nesse sentido. Com muita tristeza, achou melhor não se iludir quanto à possibilidade de ter alguma coisa que não fosse aquela simples e gostosa afeição, “o que já é muito”, dizia a si mesmo.
O tempo foi passando e o amor de Lucas por Maiara chegou ao limite suportável. Não se satisfazia mais somente com aquela sublime amizade. No portão, ao se despedirem como se tornara costume, ele sentenciou em pensamento: “é tudo ou nada”. Com o coração acelerado, puxou -a bruscamente para si e a beijou. De olhos ainda fechados, esperou pela sua reação. Com uma entonação tranqüila e meiga, Maiara disse somente três palavras:
- Nossa, demorou, hem?

[osair de sousa]

Comentários

Anônimo disse…
Muito bom! Belo conto. O texto anterior também está ótimo! Você definiu perfeitamente o que sentimos numa paixão e como ela pode simplesmente "deixar-de-ser" com a passagem do tempo. Parabéns. Abraço.
Anônimo disse…
Gostei do conto! É leve e gostoso de ler.
bjinhos e ótima semana