Tempestade

Quando ele viu o olhar dela nos seu, compreendeu de forma definitiva, que nada podem ocultar os que se amam. Eram denunciados por eles mesmos, não existia jeito de esconder o sentimento. As palavras que saiam daquela boca que ele tanto beijara não estavam em sincronia com os olhos e, mesmo que ela estando muito brava, ele não conseguiu segurar um meio sorriso. - Idiota... – disse e saiu desarmada, sem saber como prosseguir. - Quando quiser dizer que não me ama mais, feche os olhos -. Ele gritou, provocativamente. Ela abriu o portão, ele deu partida no motor. Ela parou, ele desligou a chave. Viu que ela voltava devagar, balançando a bolsa displicentemente, de cabeça baixa. Desceu do carro e abraçou-a com carinho, aninhando-a no peito. Enquanto alisava seus cabelos, o olhar perdido no infinito parecia buscar forças para que pudesse suportar tanto amor. Eles sofriam uma dor reversa; algo que não conheciam ainda. Ela enlaçou o seu pescoço e seus olhares se cruzaram. Fecharam os olhos quase simultaneamente, com receio do que eles pudessem dizer – preferiram ficar mudos, submergindo naquele mar tempestuoso de sentimentos, numa noite clara de descobertas. Assim, colados e calados, sentiram as lágrimas se encontrar entre as peles quentes dos rostos, como quem quisesse romper o pacto silencioso, denunciando toda a emoção daquele instante.

[osair de sousa - curto conto]

Comentários

Anônimo disse…
os olhos...o espelho da alma...
ali em poços profundos toda dor, toda felicidade, todo amor descritos numa luz vibrante...
tudo ali tão proximo, desejando ser revelado...Como num pedido silencioso surrado aos ventos...leia-me
Expressões que para muitos nada mais é que um enigma...quando para o olhar cristalino do amor, é o livro da vida interior do ser amado...
Devaneios sempre...
Eu amo o que escreve, amo os devaneios que me trazem...

Beijos soprados na brisa
Anônimo disse…
parabens pelo blog..
parabens pelas palavras..