Não queria que ela fosse embora, pois temia o vazio daquele corpo em sua cama. Por várias noites, após a sua partida, sentira-se expropriado de algumas racionalidades, como quem sente medo de chuva ou de borboletas – inexplicáveis. Pensou em lhe dizer que ficasse, mas não teve coragem de expor aquela insegurança emocional. Assim, com os olhos perdidos em desesperança, observou-a fechar a porta e se fazer ausente. Ficou uma tristeza morna em seu lugar.
Ela chegou inesperadamente em sua vida e recheou o vazio que há tempos lhe oprimia o peito. Tempos depois, percebeu que amava um anjo bom e bonito, sem saber se alguma coisa fizera merecedor de tanto. Tinha medo de afugentá-la e, contra todos os seus desejos, nada lhe pedia ou impunha – ela viera sem aviso e ficara; assim tinha que permanecer enquanto lhe aprouvesse. Se partisse em definitivo, ele sabia que a dor seria imensurável, mas o tanto quanto já lhe dera, valeria por toda a vida e, com isso, ainda seria feliz.
Fechou os olhos tentando refazê-la ali, ao seu lado, com sua alegria deliciosamente sedutora, preenchendo todo o vazio de seu pequeno mundo. Podia sentir a proximidade do seu calor, a textura de sua pele e até tocá-la. O seu cheiro ficara no ar do quarto e dele se embriagava num devaneio entre a imagem onírica e a realidade. Ele se sentiu em paz. Ao longe, uma música soava em notas que lhe acalentaram um adormecer tranqüilo, sem receios, sem tormentos. Um anjo velava o seu sono de criança.
[osair de sousa - curto conto]
Comentários
Você é muito importante pra mim!!!
Sua sensibilidade sua ternura...todo você...com defeitos...com mal humor ou não...Você é especial...é um anjo bom...
Lindo o conto, como tudo o que sai de você, deixando a mostra a beleza que existe em seu interior
Beijos soprados no vento...
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