Ecos noturnos

Pousa o pássaro no ombro
E canta cego dos sentidos
O ecoar de uma agonia:
Essa ave que me tornei
No tempo que me fugiu.

O peso das asas corroídas
De uma ferrugem ferida
Despem-se da intenção
De alçar o corpo nos ares:
O nada, agora, é horizonte.

Faço da ave que me pousa
Com o desejo dos deuses
A que renasce das cinzas:
Absorvo seu último canto
Nesse alucinado desatino.

Bebo ao inexorável final
Quebro a taça que brindei
E fecho os olhos pardos
Para renascer com o dia
O morrer da noite triste.

E sonho, no breve dia
Que vivi o ciclo da dor
Que à vida é essencial
E adormeço pássaro
Asas abertas, celestial.

[osair de sousa]

Comentários

Anônimo disse…
Caro Osair,

Coisas de internet... Não sei como, recebi um e-mail seu avisando de atualizações de seu blog, que nunca tinha visitado. Mas gostei de descobrir a beleza e a poesia de suas Palavras Vadias. Depois volto com mais calma para ler e sentir com o devido cuidado a força do seu verbo.

Abraços,

Cida Almeida.
Anônimo disse…
Osair, aqui encontrei os mais
belos 'ecos' que já pude imaginar.
Uma entrega em que o mais importante se faz vivência aos olhos do autor e do leitor.
Lindo!!!
Um beijo e um delicioso sábado.
Anônimo disse…
Olá Cida, que bom encontrá-la por aqui também.
Osair, como um pássaro que voa errante foi um prazer encontrar pouso neste ninho de poesia...Para quem adormece pássaro, o despertar inevitavelmente resulta em novos vôos e em cada vôo novas cores. O azul ainda está triste, mas voando você logo encontra o arco-íris, embora, digam que a boa literatura se faz das tragédias.
Marley
Anônimo disse…
Bom dia anjo...
Eu já estive aqui por duas vezes lendo esse poema, e me emociono toda vez...Agora eu estou aqui me debatendo para escrever, mas as palavras danadas fugiram e fiquei eu só...Te deixo beijos ao sabor dos seus anseios
Anônimo disse…
Olá, Maná!
Desta vez parece que vou conseguir deixar um comentário meu ao seu trabalho/sonho/vida/alma - acho que posso definir assim com esse coletivo de substantivos a sua poesia.
Simplesmente AMEI. Me deixei levar. Viajei.
Beijos,
Nonô
Anônimo disse…
Enebriada estou meu poeta... viajante em suas palavras...sem fôlego...sua alma a mostra, escancarada me conquistando...bjos mil!

Haydee