Intelectuais, ma non troppo

Na condição de boêmio abstêmio, que vara noites à base de sucos e refrigerantes em bares ou festas em casas de amigos, pode parecer estranho (e é), mas sou aceito de bom grado entre um coeso grupo de intelectuais. Sou uma espécie de assistente, muito platéia e pouco ator, bom ouvinte, confidente de dissabores pessoais quando a embriagues passa do estado de euforia para a tristeza ressacada.
O meu convívio com essa elite pensante acontece há vários anos e, nela, assumo uma postura de pupilo (nenhum cinismo, é bom deixar claro), por opção comodista. Não raro, acontece, até pela minha passividade e pelo fato de não ser um acadêmico por formação, um preconceito velado contra os meus raros comentários, como ocorre com uma criança, numa mesa só de adultos, onde suas opiniões não são solicitadas e até dispensáveis. Quando as emitem, passam a mão na sua cabeça, esboçam um sorriso enternecido e não a levam em conta, a ignoram. Isso, longe de me aborrecer, me diverte e me enriquece criticamente... Tá, sou um cínico.
Dessa boemia sem bebida alcoólica nasceu também o papel de motorista dos que exageram nas doses. Contam comigo para dirigir e o faço com um prazer amigo – pois é assim: contudo e por tudo, são amigos com quem posso contar, comprovado em muitas ocasiões adversas.
Sou um observador privilegiado e discreto, sem contar o quanto me divirto com a dicotomia sóbrio/embriagado. Comportamentos obviamente antagônicos que revelam muito de uma pessoa, da sua personalidade.
Explico melhor essa tese. Em todo intelectual existe um brega enrustido. Em todos não, alguns assumem essa condição sem problemas, como o bom baiano Caetano Veloso. Essa breguice se revela quando nossos referidos amigos superam o terceiro copo. Tem mais, a dimensão da breguice é proporcional ao preconceito intelectual de cada um, e surge sempre num ritmo crescente, a cada gole, a cada minuto passado (ou a cada copo ingerido). De madrugada, haja espaço para a desafinada cantoria de “brunos e marronis”, de “reginaldos rossis”, “peninhas” e outras pérolas e ostras da nossa mpbrega. Isso sem entrar nas confidências amorosas e sexuais onde a pieguice é de uma triste hilaridade.
É isso: me divirto e aprendo, comungando a amizade e o respeito às diferenças. No mais é relevar alguns ataques de pedantismo acadêmico e saber em qual copo beber – os intragáveis é só chamar o garçom, pedir para trocar e, se for o caso, passar o pano.

[osair de sousa]

Comentários

Luiz de Aquino disse…
Excelente, Manassan!
Um flash de indiscutível e real autobiografia a que me proponho por testemunho.
Abraços!
Anônimo disse…
adorei..

bom demais..

beijo meu..
Anônimo disse…
Oi Osair Manassan!! Foi um grande prazer te conhecer,rsrsrs! Valeu! Adorei conhecer o mundo de vocês lendo sua crônica, rsrsrs!!!
Parbéns menino, continue sendo sincero,rsrsrsrs!!! Não é acadêmico? Rsrsrsrs!!!!!! Liga não menino, você sabe escrever!!!!!!!
Parabéns!
Abraços!
Lêida Gomes