Do amor incapaz

De vez em quando brota uma saudade inenarrável de estar junto dela. É daquele tipo de saudade que o angustia, o faz ficar inquieto e, contrariando a sensatez, pega o telefone e liga. Quase sempre se arrepende, pois ela não pode lhe dar a atenção desejada e tão necessária, por estar acompanhada.
Seguiram por caminhos diferentes, ao contrário de antes, quando se somavam em um só desejo: o de estarem juntos em todo o tempo que fosse possível. Viveram momentos belos e inesquecíveis entre carinhos, cumplicidade e companheirismo. De repente, tudo mudara. Já não eram mais um par e ele fora a causa e, agora, vivia as conseqüências de sua omissão.
Perdido na incapacidade da entrega, de se abrir sem reservas para o amor que ela lhe dedicava, ele encerrou-se numa solidão egoísta. Ela, sofrida pelo bem amar não correspondido, entregou-se a outros amores menores, como lenitivos para continuar a viver e manter acesa a chama da esperança.
Passaram os anos e ela se sentia feliz novamente, entre amigos e paixões que lhe aplacaram o sofrimento. Ele, enclausurado em si mesmo, ainda sofria com a ausência do seu único e verdadeiro amor, o coração ardendo em chamas numa eterna e ilusória esperança de poder fazer o tempo voltar. Sabia que era um ato insano, mas era poeta e, ela, apenas uma mulher extravasada de amor para dar e receber, com toda a intensidade, pois sabia que breve era a vida.
Nesses momentos de louca saudade e desejos, sente brotar nos olhos taciturnos algumas gotas de lágrimas - suas únicas companheiras possíveis, enquanto não ousar enfrentar a vivência do amor em sua total plenitude.

[osair de sousa]

Comentários

Anônimo disse…
Viver o amor em sua plenitude, é saborear do que mais belo se fez em nosso interior...

beijos sabor saudades
Anônimo disse…
Comovente o texto e muito bem escrito, e mais comovente ainda por me ver nele. Chico Buarque disse que "a dor da gente não sai no jornal" Mais é impressionante como elas são semelhantes.