Diário do tempo dos prazeres vadios

faço anotações num velho caderno de aspirais aramada;
anoto os frenesis dos corpos suados e da alma saciada,
decifro em garatujos apressados, seus trejeitos,
a sinuosidade do seu corpo desvairado em prazeres,
prazeres que não há como adicionar nas páginas amareladas
pois são as linhas inacessíveis dos seus sentidos profundos.
o roto caderno já quase se desfaz;
manchas de lágrimas, marcas de borracha
pois houve momentos de revisões,
nos instantes amargos e solitários
quando a esperança ia vadiar
em sua companhia nesse vasto palco
que é a vida em nossos desencontros.
há marcas de suor dos dedos, mãos,
e tantas outras, indeléveis nas entrelinhas
que só o amor sabe anotar sem notarmos,
e delatam a proximidade do beijo dado,
a fusão dos gozos inexauríveis, loucos
tão fantásticos como só a loucura é capaz.
faço anotações nesse meu velho caderno, incansavelmente,
até que ele se desfaça, puído pelo tempo que dura o amor;
e um dia plangido meu pranto, do nosso encantado prazer
perdido no tempo vivido, na velhice que tudo alcança
sem nenhum desplante, fará da lembrança enfumaçada
a única anotação válida na cínica comédia do humano.

Osair de Sousa

Comentários

Lara César disse…
Adorei... muito bonito. Gosto muito do que você escreve, meu grande amigo. Naõ sei se já te disse isso em palavras, que como você diz aí, não podem dizer tudo. Mas algumas coisas elas podem dizer: ADOREI! Saudades... Beijos,
Lara
Anônimo disse…
Gostei da idéia da rádio. Osair fico muito feliz que voltaste a escrever. Estava preocupada que tinhas abandonado pra sempre as letras. Que Deus te abençoe em cada momento de teu dia e que tuas horas sejam de alegria.